terça-feira, 27 de outubro de 2009

Conto Contigo!

Olá, amigos(as)! ;)


Votem no excerto que preferirem para iniciarmos uma aventura no meio dos livros.

Excerto A

«[...] Ele ouviu a cassette na sua estereofonia impecável e chorou sem saber o que chorava.
        Depois ouviu-a outra vez.
E mais outra. E carregou-a nos walkmen dias inteiros, aprendeu-a toda de cor, julgou descortinar os primórdios de um código que lhe era pessoalmente dirigido.
        Ele nunca pensara nisso antes, mas nessa altura pensou que existiam almas gémeas.
        Pensou na rapariga do segundo esquerdo.
       Começou a pensar muito nela, e depois começou a estudá-lo discretamente, à distância, sem nunca deixar transparecer nada mas identificando agora  em cada um dos sinais  da presença dela outra letra, outra sílaba, palavras inteiras do código das  almas gémeas.
       O corte curto e despenteado do cabelo.
       O sorriso quase inexistente com que depositava as moedas no balcão para pagar a bica.
       A forma como mordiscava a unha do polegar se estava à espera de alguém.
       As roupas, todas as roupas, as largas, as justas, as de riscas  as todas só de uma cor, a maneira como as conjugava de uma forma que pressupunha não ter sido investido nisso qualquer espécie de esforço.
       E os sapatos.
       A exacta perfeição dos sapatos.
       Estava lá tudo escrito. [...]»

Excerto B

«[...] os irmãos de Medranhos encontraram, por trás de uma moita de pinheiros, numa cova de rocha, um velho cofre de ferro. Como se o resguardasse uma torre segura, conservava as suas três chaves nas suas três fechaduras. Sobre a tampa, mal decifrável através da ferrugem, corria um dístico em letras árabes. E dentro, até às bordas, estava cheio de dobrões de ouro!
       No terror e esplendor da emoção, os três senhores ficaram mais lívidos do que círios. Depois, mergulhando furiosamente as mãos no ouro, estalaram a rir, num riso de tão larga rajada que as folhas tenras dos olmos, em roda, tremiam... E de novo recuaram, bruscamente se encararam, com os olhos a flamejar, numa desconfiança tão desabrida que Guanes e Rostabal apalpavam nos cintos os cabos das grandes facas. Então Rui, que era gordo e ruivo, e o mais avisado, ergueu os braços, como um árbitro, e começou por decidir que o tesouro, ou viesse de Deus ou do Diabo, pertencia aos três, e entre eles se repartiria, rigidamente, pesando-se o ouro em balanças. [...]»

Texto mais votado: "O Tesouro", de Eça de Queirós.

5 comentários:

Anónimo disse...

Excerto B stora ;DD
"[...]Depois,[...]olmos,em roda, tremiam..."
a minha parte favorita do que li

Nobre,nº17,8ºC

EBEC disse...

Olá, Nobre! ;) Bons olhos te leiam! :)

O que gostaste nessa passagem do excerto?

Aguardo-te, aqui, com desmesurada curiosidade.

Beijocas! ;)

it

Nobre +.+ disse...

IT pois dizer o que gostei é um pouco dificil, é que o contexto no geral pareçe ser tão bom e aquela passgem deixou-me com sede pelo resto que se segue...


Kiss Kiss! =DD

8ºC nº17

EBEC disse...

Nobre,

Eu também gosto muito desse passo, mas acrescentava-lhe uma parte anterior: "[...] estalaram a rir, num riso de tão larga rajada que as folhas tenras dos olmos, em roda, tremiam [...]" (linha 5).

Ao contrário de ti, sei porque gosto dela, porém, preferia que fosses tu a adivinhar. Vou dar-te uma dica. Há aqui uma figura de estilo...

Sou toda olhosssssss!

"Kisses"!

it

EBEC disse...
Este comentário foi removido pelo autor.